Detesto acordar ao sábado de forma não natural, e
principalmente quando é o meu telemóvel aos berros, porque me estão a ligar.
E surpresa surpresa é o meu primo André, o que será que ele
quer as 10 da manhã de um sábado, coisa rara ele estar acordado a esta hora e a
ligar-me, será que se passou alguma coisa?
- Rita
tens de vir para Leiria o mais rapidamente possível…
- O
quê? Mas porque o quê que se passa?
-
Passa-se que consegui-nos uma actuação para amanhã à noite no “Villa”.
- O
QUÊ????
- Sim,
fala com o Filipe e com o Diogo, para virem já hoje, uma vez que não toco com
vocês prai à um mês.
- Claro
claro, mas primeiro explica-me como foi isso possível?
- Olha
ontem fui lá por acaso com o pessoal …
- Mas
ainda estas em Leiria porque? Pensava que já estavas em Lisboa!
- Não
não, ainda estamos cá todos. Como estava a dizer, fomos lá ontem e ouvi uma
conversa entre os empregados, a dizerem que a banda que ia lá tinha cancelado,
e que agora estavam apertados. Olha ganhei coragem fui falar com eles e disse
que tinha uma banda, mostrei o nosso vídeo, eles gostaram e contrataram.
-
Cala-te!! Lindo, ok ok, eu vou falar com eles e estamos ai o mais rapidamente possível.
Já te ligamos.
Nem acredito nisto, não tocamos à imenso tempo em publico,
eles vão ficar tão loucos, ainda bem que eles estão acampados cá em casa desde
de quinta à noite.
Depois de
ter entrado na sala aos gritos e aos saltos, e de eles não terem percebido nada
do que se estava a passar, lá me consegui acalmar e explicar o que se passava.
Eles ficaram tao entusiasmados quanto eu.
Entretanto fomos tomar o pequeno-almoço e começamos logo a falar do que íamos
tocar, do que era preciso levar, quem era preciso avisar e quem tínhamos de
levar cá de Coimbra. Não menos importante é ligar aos meus pais a avisar que
este fim-de-semana vamos ter a casa cheia, e claro para eles falarem com os
amigos para irem todos, ahahahah, temos é de ter casa cheia.
Após uma hora de correria constante nesta casa, temos tudo
arrumado e pronto para ir embora, quero chegar a Leiria por volta das 13h/14h.
A Leo, as irmãs e o Rodrigo vão lá ter mais tarde, provavelmente chegam à
tardinha.
Já avisei os meus pais de que a cachopada toda vai lá ficar em casa estes dias.
O que vale é que até temos um casarão grandinho e com quartos que chegue para
toda a gente, eles nem se importam já é costume irmos todos lá passar
fins-de-semana, aliás os quartos até já estão distribuídos e já nem existem
discussões possíveis sobre mudanças. A Leo e as irmãs dividem um, o Rodrigo, o
Diogo e o Filipe outro, e ainda temos o anexo caso seja preciso albergar mais
alguém.
Já no carro, com o André em altifalante, vamos discutindo o
que devemos ou não tocar, o que precisamos ou não de ensaiar a fundo, o que
queremos experimentar de novo. Por isso é que gostamos sempre de ter
espectadores nos nossos ensaios, para avaliarem as nossas tentativas de novas
musicas a incorporar no reportório.
Com as ideias no lugar, já mandamos o André começar a preparar a garagem e
alguma coisa para nós comermos, a sugestão foi MAC como é óbvio, para assim que
chegarmos comermos, montarmos os instrumentos e começarmos logo a bulir.
E bem dito bem feito estivemos todo a tarde e toda a noite a
ensaiar, com o pessoal ao nosso lado a ajudar-nos no que fosse preciso. Eles
chegaram por volta das 19h, na altura certa, fez com que fizéssemos um intervalo
e fossemos jantar todos juntos a um Japonês.
A noite foi longa mas divertida, apesar de esta manha não estar
a 100%, já ando de um lado para o outro a ver o que é preciso fazer para que
esta noite seja perfeita.
Depois de um óptimo jantar de família cá em casa, eu e a
banda retiramo-nos mais cedo, temos de estar no bar as 22h de modo a estarmos a
tocar a primeira música lá pelas 23h30.
O Marco, o dono do bar, é um gajo super porreiro e mete o
pessoal logo à vontade, até perguntou se tínhamos alguma “exigência”. Achei
imensa graça, nunca pensei ter alguém a perguntar-me se tinha alguma exigência
apenas por ir tocar.
As 23h30 o bar já estava completamente ao barrote, maioritariamente
nossos amigos, mas mesmo assim não deixo de estar a tremer de nervosismo, à
muito muito tempo que não canto para tanta gente. E a quando o Marco nos
anuncia, mais pressão começo a sentir nos meus ombros.
As primeiras palavras saem um bocadinho tremidas:
- Boa
noite, nós somos os “The Jack’s”, e espero que gostem …
Foram curtas, mas o público mostrou-se entusiasmado, o que me fez sentir mais
confiante, e a primeira musica saiu na perfeição e todos adoraram, assim como
tudo o que se seguiu, mesmo certas desafinações ou partes das letras
esquecidas, ninguém se importou e curtiram ate ao fim.
Para meu espanto, a meio do concerto, o Tiago entra pelo bar
a dentro, com o maior sorriso de sempre.
A minha cabeça começou a rodar a mil à hora, só conseguia pensar o que é que
ele estava a fazer em Leiria.
Ao intervalo, tive de ir falar com ele:
- Mas o
que é que estas aqui a fazer?
-Achas
que ia faltar a um concerto teu? Principalmente depois de só te ter ouvido
cantar no SW??
-Para
isso não era preciso vires de propósito … nem contava contigo
- Mas
eu queria estar aqui hoje para te apoiar, quero que vejas que estou aqui e que não
vou desistir de alguém como tu.
- Ok …
Obrigado …Espero que a viagem valha a pena, vou dar o mais que o meu melhor só
por isso.
O meu coração esta a mil e não sei o que fazer às mãos, até que ele me agarra a
direita e me deseja boa sorte com um beijo na bochecha e com um sorriso de
morrer.
Após desta curta troca de palavras tive de regressar a palco.
Antes de começarmos falei com eles, agarrei na viola e toquei Bem Howard – Only
Love, que é meio que a minha música com o Tiago.
Uma vez que depois de
meia hora à procura um do outro no concerto de Ben Howard no Sw, nos encontramos
ao som de Only Love e ele beija-me como nunca antes ninguém tinha feito, o que
para mim foi um marco. E cantar esta música aqui, para ele, penso que é uma
maneira de lhe dizer, que também estou aqui e preparada para por para trás das
costas a separação que tivemos no início do ano.
Lá para as 2h30 cantamos a nossa última música e recebemos
um grande carinho de todos os que estavam presentes, quando acabamos muitos
vieram falar connosco e dar-nos os parabéns. Foi óptimo ouvir tantos elogios e
saber que correu tudo bem, depois de tanto tempo sem tocarmos juntos.
Mas bom bom, foi ter as minhas melhores amigas presentes. Já
não via a Margarida e a Sofia à tanto tempo, que tê-las esta noite ao meu lado
e poder apresentar-lhes o Tiago pela primeira vez, para que elas me possam dar
uma retrospectiva dele, foi tudo de bom.
E tal como pensei, depois de falarem uns minutos com o
Tiago, deram o olhar de aprovação e vieram falar comigo:
- Opa
adorei o rapaz, nem sei dizer se ele parece a pessoa que te abandonou do nada
no inicio do ano, sem dar qualquer explicação.
- Mesmo
a sério Sofia, mas olha Rita só o facto de se ter disponibilizado a fazer uma
parga de quilómetros só para te ver cantar e te dizer aquilo. Arrisca, e além
disso, desta vez és tu quem tem a faca e o queijo na mão!!
- Ai
meninas também acho, e vocês sabem que eu nunca o tirei da cabeça, que todos
aqueles dias no SW, o eu ter ido ter com ele à Figueira e ele ter vindo a Leiria,
todos os momentos do verão. Vamos ver, vamos ver.
Com um resto de noite calmo, sentados numa das mesas do bar
a beber umas cervejas e a conversarmos, batem as 5h da manhã e decidimos
continuar a conversa lá em casa. Pegamos nas tralhas, enfiamo-nos nos carros e
acabamos no anexo, com mais umas cervejas e as violas.
Quase 7h da manhã e o Tiago faz-me sinal para irmos lá fora
falar. O anexo é no jardim, perto da piscina, como as janelas estavam abertas conseguíamos
ouvir o que cantavam e discutiam ao mesmo tempo.
Junto à borda da piscina ele pergunta-me:
-
Fiquei espantado com a escolha da tua primeira música após termos falado,
porque?
-
Porque ela relembra-me quem tu foste para mim quando te conheci, os bons
momentos que passamos no verão, o feliz que fomos durante três escassos meses …
Aproximando-se cada vez mais de mim, e deixando-me cada vez
mais nervosa e sem saber o que fazer.
- E é
por isso que estou aqui. Para voltarmos a passar por tudo outra vez …
- Mesmo
a parte em que desapareces e nem uma explicação me dás?
- Não,
para te dizer todos os dias, o quanto adoro o som da tua voz esganiçada, o
quanto me deixa louco o olhar que fazes depois de me beijar, o teu olhar
inocente quando te elogiam uma parte de ti que detestas, o teu cantarolar pela
manhã, o quando adoro quando te ris a meio de um beijo …
E sem mais hesitação beijou-me, como se fosse a primeira
vez, mas agora com um misto de emoções à mistura que nem metade consigo decifrar.
Sei que estou completamente rendida a ele, com uma lagrima a escorrer-me pela
cara, e uma risada pelo meio, o nosso olhar selou o compromisso.
E foi por tudo isto que esta noite foi inesperadamente incrível,
a minha banda deu um concerto óptimo, para quem não tocava à seculos juntos, e
o vazio que sentia desde que tinha perdido o Tiago voltou a ficar preenchido.
Foi tudo incrível e inesperado e perfeito, para uma única noite, não podia ter
pedido mais nada.